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Egas Moniz (1874-1955) Antonio Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, nasceu em Avanca, concelho de Estarreja, em 29 de Novembro de 1874. Filho de Fernando Pina Resende Abreu e de Maria do Rosário de Almeida de Sousa Abreu. Em 1866 realizou o exame de instrução primária na Escola do Conde Ferreira em Estarreja. Devido a dificuldades financeiras, o seu pai emigrou para a Beira (Moçambique) e alguns dos bens de família foram colocados à venda, em hasta pública. Foi o abade Caetano de Pina Resende Abreu de Sá Freire, seu tio, que apoiou os seus primeiros estudos. Após a Escola Primária, Egas Moniz estudou no Colégio de São Fiel, em Castelo Branco, e fez o último ano do ensino secundário no Liceu de Viseu. Em 1891, ano da morte do seu pai, fixou-se em Coimbra para estudar Medicina. Durante o curso faleceram os seus familiares mais próximos, o seu irmão, em 1895, a sua mãe, em 1898 e o seu tio abade, também em 1898. São desta data as primeiras crises de reumatismo gotoso, uma doença que o acompanhou durante toda a sua vida. Casou em 1901 com Elvira Macedo Dias, natural do Rio de Janeiro.
Inicialmente trabalhou nas disciplinas de Anatomia, Histologia e, mais tarde, de Patologia Geral. Em 1910 tornou-se professor catedrático. Em 1911 transferiu-se para a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde ficou responsável pela cadeira de Clínica Neurológica. Abriu consultório em Lisboa e começou a fazer deslocações regulares a outros países, principalmente a França. Desde os seus tempos de estudante que tinha uma actividade política intensa. Era defensor activo da liberdade de expressão e pensamento e em 1908 foi preso por estar envolvido na tentativa de golpe de estado de 28 de Janeiro contra a ditadura de João Franco (1855-1929). Foi deputado em várias legislaturas, de 1903 a 1917. Em 1910 fez a sua iniciação na maçonaria, na Loja Simpatia e União, de Lisboa. Em 1917 fundou o Partido Centrista, que pretendia unir antigos monárquicos de corrente progressista e republicanos que se afastavam do Partido Evolucionista. Defendia uma aliança entre o capital e o trabalho e preconizava a aplicação de medidas de protecção das classes trabalhadoras. Defensor das liberdades públicas e dos direitos individuais, liderou a corrente parlamentarista do Partido Nacional Republicano resultante da aliança entre os Partido Centrista e os sidonistas, apoiantes do golpe que instaurou em 1917 a ditadura de Sidónio Pais (1872-1918). Em 1917 foi nomeado Ministro de Portugal em Madrid e em 1918 foi Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Sidónio Pais. No desempenho deste último cargo presidiu a delegação portuguesa na Conferência de Paz de Versalhes em 1918. Em 1919, após o assassinato de Sidónio Pais, foi substituído neste cargo por Afonso Costa (1871-1937) e decidiu abandonar a política activa. Passou então a dedicar-se à sua carreira científica, após ter publicado a obra Um Ano de Política, onde expõe os seus sentimentos e opiniões sobre o seu percurso político. Foi nomeado director do Hospital Escolar de Lisboa em 1922 e tornou-se sócio efectivo da Academias das Ciências de Lisboa em 1923, instituição de que veio a ser presidente pela primeira vez em 1928, vindo a ocupar posteriormente esse cargo por diversas vezes. Foi director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa entre 1929 e 1931. Em 1939, quando tinha 65 anos, sofreu um atentado no seu consultório, por parte de um seu doente, que o alvejou com oito tiros, dois quais cinco o atingiram. Sobreviveu e jubilou-se em 1944. Em 1945 foi-lhe entregue o prémio de Oslo e em 1949 foi-lhe atribuído o prémio Nobel de Medicina e Fisiologia. Faleceu em Lisboa em 13 de Dezembro de 1955.
Obras Destacam-se aqui apenas alguns dos títulos mais significativos da sua obra científica: Tese de Licenciatura, Alterações anátomo-patológicas na difteria, apresentada em 1900. Tese de Doutoramento, A Vida Sexual - Fisiologia, apresentada em 1901. Provas de concurso para lente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, em 1902 com o trabalho A Vida Sexual - Patologia. Estes dois últimos trabalhos vieram mais tarde a ser reunidos com modificações na sua obra A Vida Sexual (Fisiologia e Patologia), editada pela primeira vez em 1913 e que se tornou uma obra polémica e muito procurada, com 19 edições até 1933. Com o governo de Salazar (1889-1970), a sua aquisição só podia ser feita com receita médica. A Neurologia na Guerra, Lisboa, Livraria Ferreira, 1917. Clínica Neurológia, Lisboa, Faculdade de Medicina, 1925. O Padre Faria na História do Hipnotismo, Lisboa, Faculdade de Medicina, 1925. Diagnostic des Tumeurs Cérébrales et Épreuve de l'Encéphalographie Arthérielle, Paris, Masson&Cie, 1931. L'Angiographie Cérébrale. Sea Applications et Résultats en Anatomie, Physiologie et Clinique, Paris, Masson&cie., 1934. Tentatives Opératoires dans le Traitement de Certaines Psychoses, Paris, Masson&Cie., 1936. La Leucotomie Préfrontal. Traitement Chirurgical de Certaines Psychoses, Torino, Baravalle e Falconieri, 1937. Clínica delle Angiografia Cerebrale, Torino, Iter, 1938. Die Cerebrale Arteriographie und Phlebographie, Berlin, Julius Springer, 1940. Trombosis Y Otras Obstrucciones de las Carotidas, Barcelona, Salvat, 1941. Última Lição - Bibliografia, Lisboa, Portugália Editora, 1944. Para além destes livros, publicou muitos artigos em revistas especializadas, portuguesas e estrangeiras, em nome individual e em colaboração com diversos especialistas como Almeida Lima, Almeida Dias, António Martins, Eduardo Coelho, Amândio Pinto, Luiz Pacheco, Lopo de Carvalho, Romão Loff, Victor Fontes, Cancela de Abreu, Cândido de Oliveira, Abel Alves, Fernando de Almeida, Aleu Saldanha, Pereira Caldas, Diogo Furtado, Ruy de Lacerda, Joaquim Imaginário, Abel Cancela de Abreu, João Lobo Antunes, Cruz e Silva e Lídia Manso Preto.
Principais contributos científicos
As suas duas descobertas mais importantes foram a angiografia cerebral, conseguida em 1927 e a leucotomia pré-frontal, concretizada em 1935. A primeira foi premiada com o Prémio de Oslo de 1945 e a segunda com o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1949. Para conseguir fazer a angiografia cerebral, Egas Moniz fez muitas experiências, na tentativa de encontrar substâncias que pudessem ser injectadas nas artérias do cérebro de forma a tornar visíveis os vasos cerebrais nas radiografias. A opacidade conseguida com a injecção desses produtos permitiria obter um contraste, detectar tumores cerebrais e assim facilitar o seu tratamento. Foi em 28 de Junho de 1927 que Egas Moniz obteve a primeira arteriografia do corpo humano vivo. Este feito deu-lhe um grande prestígio internacional e veio a ser muito importante na divulgação do seu trabalho de investigação posterior no domínio da psicocirurgia. Após este conjunto de trabalhos de investigação, Egas Moniz passou a dedicar-se a um outro projecto de tratamento de algumas doenças mentais que constituíam um dos alvos prioritários da medicina neurológica da época, antes do desenvolvimento da farmacologia e dos psicotrópicos. Pensava ser possível tratar algumas doenças por meios físicos, através do corte das fibras de ligação entre os neurónios. Este tratamento seria feito nos lobos pré-frontais. Este tratamento foi classificado como leucotomia pelo próprio Egas Moniz. Embora inicialmente tenha utilizado um método que consistia na introdução de álcool puro, posteriormente passou a utilizar um instrumento especial, a que chamou leucótomo, com o qual se cortava uma pequena esfera da substância branca dos lobos pré-frontais. Estas intervenções eram realizadas pelo cirurgião Almeida Lima, principal colaborador de Egas Moniz. Este método teve uma rápida divulgação e aplicação em diversos países. A leucotomia foi depois transformada e desenvolvida pelo americano Walter Freeman, cujo método ficou conhecido por lobotomia. Estes métodos levantaram muita controvérsia principalmente a partir dos anos 50, quando começaram a existir alternativas de tratamento da esquizofrenia através de medicamentos farmacológicos. A imagem negativa da lobotomia e a sua identificação muitas vezes abusiva com a leucotomia está intimamente relacionadas com a metodologia de actuação de Freeman, que fez uma verdadeira campanha de lobotomização pelos Estados Unidos, onde realizou mais de 3500 operações, no que foi imitado por muitos outros psicocirurgiões em diversos países. Embora a leucotomia e a lobotomia sejam métodos hoje em dia praticamente abandonados, a controvérsia continua aberta. Bibliografia FERNANDES, Barahona, Egas Moniz, Pioneiro de Descobrimentos Médicos, Lisboa, ICLP, 1983. PEREIRA; Ana Leonor; PITA; João Rui; RODRIGUES, Rosa Maria, Retrato de Egas Moniz, Lisboa, Círculo de Leitores, 1999. PEREIRA; Ana Leonor; PITA; João Rui, org., Egas Moniz em livre exame, Coimbra, Minerva Coimbra, 2000.
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