Bartolomeu de Gusmão (1685-1724)

Nasceu em Santos, S. Paulo,
no Brasil, e fez estudos no Seminário jesuíta de Belém, na freguesia de Cachoeira, Capitania da Baía, onde se ordenou. Desde muito cedo se interessou pelo estudo da Física, tendo concebido uma máquina de elevação de água a 100 metros de altura, no Seminário de Belém. Em 1701 veio para Portugal, tendo regressado ao Brasil pouco depois, para voltar a Portugal em 1708 a fim de fazer o curso de Cânones da Universidade de Coimbra. Aqui desenvolveu os seus estudos de Física e Matemática. Em 1709 dirigiu uma petição a D. João V anunciando que tinha descoberto "um instrumento para se andar pelo ar da mesma sorte que pela terra e pelo mar". O rei concedeu-lhe privilégio para o seu instrumento por alvará de 19 de Abril de 1709. Fez várias experiências com balões de ar aquecido, algumas delas na presença de D. João V e da corte.
Em 1713 partiu para a Holanda onde pretendia desenvolver as suas experiências. Voltou em 1716 e concluiu em 1720 o curso universitário que tinha interrompido. Fundada a Academia Real de História e
m 1720, foi nomeado académico e

D. João V colocou-o na Secretaria de Estado tendo-o nomeado fidalgo-capelão da casa real e concedeu-lhe rendimentos no Brasil. Foi encarregado pela Academia de escrever em português a História do Bispado do Porto.
Pouco antes de morrer converteu-se ao judaísmo e em 1724 fugiu para Espanha evitando as perseguições da Inquisição de que era alvo. Faleceu num hospital de Toledo, Espanha, durante a fuga, em 1724.
Era irmão do político e diplomata Alexandre de Gusmão (1629-1724).

Obras

Manifesto Sumário para os Que Ignoram Poder-se Navegar pelo Elemento do Ar, onde pretendia mostrar a possibilidade da aeronáutica, 1709; Vários modos de Esgotar sem Gente as Naus que Fazem Água, 1710.

Principais contributos científicos

Cognominado o "padre voador", é considerado um percursor da aeronáutica sendo dos primeiros a provar a possibilidade de criar engenhos com capacidade para voar. O projecto que apresentou a D. João V previa a possibilidade de criar um instrumento que permitisse mandar avisos a territórios longínquos, transportar produtos ultramarinos, socorrer praças sitiadas, descobrir as regiões próximas dos pólos, e resolver o problema das longitudes.
Após ter recebido do rei D. João V, em 19 de Abril de 1709, apoio e um privilégio que lhe permitiria ter o exclusivo na construção de máquinas voadoras, dedicou-se a esta tarefa. A 5 de Agosto de 1709 fez uma primeira experiência pública, na sala do Paço e na presença do rei, tentando fazer subir um globo de papel que tinha sob a abertura uma pequena barquinha com fogo, mas o balão ardeu sem voar. A segunda experiência, a 7 ou 8 de Agosto resultou. No dia 8 de Agosto de 1709, na sala dos embaixadores da Casa da Índia, diante de D. João V, da Rainha, do Núncio Apostólico, Cardeal Conti (depois papa Inocêncio XIII), do Corpo Diplomático e demais membros da corte, Gusmão fez elevar a uns 4 metros de altura um

pequeno balão de papel pardo grosso, cheio de ar quente, produzido pelo "fogo material contido numa tigela de barro incrustada na base de um tabuleiro de madeira encerada". Com receio que pegasse fogo aos cortinados, dois criados destruíram o balão, mas a experiência tinha sido coroada de êxito e impressionado vivamente a Coroa. A 3 de Outubro um outro "instrumento de voar", lançado da Casa da Índia, elevou-se a grande altura

Durante a segunda metade do século XVIII difundiu-se a ideia de que o próprio Bartolomeu de Gusmão teria efectuado um voo num aeróstato por ele construído, entre o Castelo de S. Jorge e o Terreiro do Paço, mas trata-se de uma lenda, não há documentos que registem esse acontecimento e as suas experiências teriam avivado a imaginação popular a tal ponto que ele seria alvo de chacota.

Não se conhecem outras experiências para além das que praticou na corte, sendo muito famosa a gravura que fez da "passarola", que não terá passado de um artifício de Gusmão para desviar a atenção dos seus detractores e dos curiosos.
As experiências com aeróstatos foram desenvolvidas na segunda metade do século XVIII pelos irmãos Montgolfier, Joseph Michel (1740-1810) e Étienne (1745-1799). Após várias experiências, em Setembro de 1783 fizeram subir um balão de ar aquecido que transportou três animais e em Novembro um outro balão transportou duas pessoas e sobrevoou Paris.

Fernando Reis


Apontadores

Museu do Ar – Bartolomeu de Gusmão

Passarola


Bibliografia

AMEIDA, L. Ferrand de, "Gusmão, Bartolomeu Lourenço de", in SERRÃO, Joel, Dicionário de História de Portugal, Porto, Figueirinhas, 1981, vol. III, pp. 184-185.
CARVALHO, História dos Balões, Lisboa, Relógio d'Agua, 1991.
CRUZ FILHO, F. Murillo, Bartolomeu Lourenço de Gusmão: Sua Obra e o Significado Fáustico de Sua Vida, Rio de Janeiro, Biblioteca Reprográfica Xerox, 1985.
SILVA, Inocencio da, ARANHA, Brito, Diccionario Bibliographico Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional, T. I, pp. 332-334.
TAUNAY, Affonso d'Escragnolle, Bartolomeu de Gusmão: inventor do aerostato: a vida e a obra do primeiro inventor americano, S. Paulo, Leia, 1942.
TAUNAY, Affonso d'Escragnolle, Bartholomeu de Gusmão e a sua prioridade aerostatica, S. Paulo: Escolas Profissionaes Salesianas, 1935, Sep. do Annuario da Escola Polytechnica da Univ. de São Paulo, 1935.

                                                  
                                                    figura retirada do livro Física Divertida de Carlos Fiolhais

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