Espaço Atlântico de Antigo Regime

Espaço Atlântico de Antigo Regime

Documents

Africanos e seus descendentes nas malhas da justiça. Brasil colónia, Séc. XVIII

Marcos Magalhães de Aguiar
Universidade de Brasília

Pretende-se considerar a recepção de queixas judiciais oferecidas por africanos e seus descendentes na Justiça do Brasil, no decorrer do séc. XVIII. A discussão é precedida de abordagem sobre as práticas judiciais presentes na Justiça colonial, com ênfase nas instituições de primeira e segunda instâncias - Senado da Câmara, Ouvidoria e Relações da Bahia e do Rio de Janeiro. Adotando-se viés serial, procura-se caracterizar os queixosos e discutir a natureza de suas demandas. Objectiva-se discutir a apropriação dos mecanismos judiciais por parte dos africanos e seus descendentes e verificar em qual sentido essa prática conduziu a alguma especificidade da justiça colonial.

António Albuquerque Coelho de Carvalho: um governador num espaço atlântico


Renato Pires
Centro de História de Além-Mar - Universidade Nova de Lisboa


Descendente de uma linha de governadores, António Albuquerque Coelho de Carvalho foi um dos governantes mais importantes de finais do século XVII e começos do século XVIII. Desempenhando funções no Reino, no Brasil e em Angola, a sua actividade foi sempre pautada por uma grande sintonia e cordialidade com as Camâras locais, não se registando conflitos com estes órgãos e recebendo sempre os maiores elogios.
António Albuquerque ao longo da sua carreira será encarregue de missões administrativas importantes, sendo, por exemplo nomeado pelo rei para governador da cidade do Rio de Janeiro tendo como principal função por fim à Revolta dos Emboabas que estava a afectar a actividade mineira na região das Minas Gerais.  A vida e actividade de António Albuquerque e de seus familiares pode ser apontada como um bom exemplo de uma família que se colocou ao serviço do Estado, e que ao exemplo do que sucedia na Ásia, actuou sempre num só espaço: o Atlântico. Temos, assim, uma transmissão de poderes a uma família, realizada pelo rei e pelo Conselho Ultramarino, feita com base nas qualidades administrativas demonstradas dos seus elementos. António Albuquerque, foi o que mais se destacou, não só pela dificuldade de suas missões, bem como, pela longevidade e maior quantidade de cargos desempenhados.

António de Sousa de Macedo, donatário da Ilha Grande de Joanes


Edilson Nazaré Dias Motta Faculdade de Letras - Universidade do Porto
Pedro Miguel de Mesquita da Costa de Sousa de Macedo Universidade Católica Portuguesa


António de Sousa de Macedo (1606, Porto - Lisboa, 1682) é uma figura marcante da história e da sociedade portuguesa. As suas capacidades polifacetadas deixaram marcas públicas como homem de leis, polígrafo, poeta, diplomata. Homem de grande actividade literária e política, nele encontra-se o herdeiro de um património familiar peculiar. Durante o reinado de D. Afonso VI, isto é, em Dezembro de 1665, enquanto exercía as funções de Secretário de Estado, foi exarado o Alvará que lhe concedeu o título de Capitão, Governador e Senhor Donatário da Ilha Grande de Joanes, de juro e herdade, de que seu filho, Luís Gonçalo de Sousa de Macedo (1645? -1727), foi feito Barão, a 27 de Setembro de 1666. A donataria e o título estiveram na família até 1754. Novos esclarecimentos podem surgir de uma investigação que aproxime os percursos biográficos dos agentes da consolidação do domínio lusitano nas terras do Amazonas, a uma análise dos instrumentos administrativos de exercício desse poder, sancionados no Reino para o Império Ultramarino. Este trabalho orienta-se para uma investigação que estabeleça paralelos entre percursos de agentes efectivos de exercício do poder político e a configuração das instituições que lhe garantem aquele exercício.

Arte dos negócios: saberes, práticas e costumes mercantis no império luso-brasileiro


Cláudia Maria das Graças Chaves
Universidade Federal Fluminense


Esta comunicação tem por objectivo reflectir sobre a cultura mercantil a partir da introdução da formação profissional no Império Luso-brasileiro. Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, as actividades mercantis ganharam maior projecção social dos dois lados do espaço Atlântico, principalmente em decorrência das mudanças promovidas pelo Marquês de Pombal, tais como a criação da Junta de Comércio e a valorização social e política da classe mercantil. Com a criação de estatutos, aulas de comércio e com a ampliação de fóruns representativos
- a exemplo da elevação da Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação à categoria de tribunal em 1788 -, houve uma maior profissionalização de negociantes e mercadores, aumentando, assim, os debates sobre as práticas e os costumes da actividade mercantil. Na América portuguesa, essa mudança reflectiu-se nas reivindicações de mercadores e de negociantes para serem tratados com iguais privilégios concedidos aos mercadores das praças de Portugal. Entre tais privilégios, estavam a organização de classes especializadas de mercadores, os arruamentos e a aposentadoria de lojas, mesmo que isso contrariasse os novos princípios" liberais de economia política. A partir da transferência da Corte para o Rio de Janeiro e da abertura dos portos do Brasil, são também introduzidas as aulas de comércio. Essas aulas na América seguiam as mesmas directrizes curriculares de Portugal, com a aprendizagem de noções gerais de contabilidade, direito mercantil e condutas de mercado. À maior profissionalização, seguia-se também a elitização das categorias mercantis que rejeitavam todas as formas de comércio ambulante, principalmente quando realizado por mulheres, embora os membros da Junta de Comércio estabelecida no Brasil considerassem que essa era uma particularidade das práticas e dos costumes na América. Dessa maneira, o savoir-faire dos Homens de Negócio e dos mercadores tornou-se não apenas uma forma de fazer fortuna, mas também distinção e reconhecimento social. O bom negociante era aquele que detinha os conhecimentos específicos requeridos pela profissão. Por essa razão, manuais e dicionários sobre os temas correntes foram intensamente escritos ou traduzidos em Portugal e divulgados na América. "

As Concessões mercantis e a construção atlântica portuguesa


Aurélio de Oliveira
Faculdade de Letras - Universidade do Porto


Procurará analisar-se o papel e a importância de algumas concessões marítimas (e territoriais) concedidas para a área dos espaços atlânticos no Século XV e XVI verificando até que ponto os lineamentos estruturais dessas concessões determinaram (ou não): 
A) a efectiva  materialização e construção do espaço atlântico%% B) a presença de características  fundamentais na determinação e  envolvimento de determinadas clientelas metropolitanas%% C) seu papel na construção e preservação de um espaço especificamente  nacional%% D) até que ponto elas terão sido, ou não, uma das peças fundamentais da  durabilidade da Construção lusa no atlântico.
NB: Tomam-se como principais referências as Concessões a Fernão Gomes%% as Concessões a Fernão Teles%% (outras menores: a Lopo de Almeida%% Tristão da Cunha%% e ao Duque de Beja)%% As concessões a Fernando Loronha%% as concessões a Duarte Coelho (e outros)%% As concessões a Salvador Correia de Sá

As condições de governabilidade: um refinado jogo de interesses na América lusa [...]


Carlos Kelmer Mathias
Universidade Federal do Rio de Janeiro

A presente comunicação tem por objectivo analisar as condições de governabilidade as quais estavam sujeitos os altos funcionários administrativos régios na América lusa, notadamente os governadores de capitanias. Não podendo prescindir do apoio de membros da chamada elite local, esses funcionários por vezes encontravam-se em situações nas quais viam-se obrigados a negociar mercês - quer gratuitas, quer pagas - foros e privilégios com o intuito de obter e/ou manter sua governabilidade. Assim sendo, percebe-se um refinado jogo de interesses tanto pelo lado de tais governadores, como de tal elite, no decorrer das relações havidas e estabelecidas entre ambas as partes. Destaca-se a perene situação - e por assim dizer necessidade - de (re)estabelecimento de estratégias de acção visando, em última instância, a governabilidade (no concernente a esses altos funcionários) e a manutenção de prerrogativas de mando (no caso dos membros da elite local).

As frotas do Brasil no Atlântico de final de Antigo Regime


António Lopes
Eduardo Frutuoso
Paulo Guinote

O objectivo central desta comunicação passa pela apresentação de uma reconstituição do movimento das frotas e navios entre Lisboa e os portos da costa brasileira desde o período pombalino até ao período pós-independência do Brasil.
Esta reconstituição, embora enquadrada num conjunto de estudos anteriores, baseia-se na exploração sistemática dos Livros do Marco dos Navios depositados no Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa, correspondendo a uma visão condensada dos materiais disponibilizados na obra O Movimento do Porto de Lisboa e o Comércio Luso-Brasileiro (Lisboa, 2001) e complementada com novas pesquisas naquele arquivo sobre o movimento de navios portugueses no Atlântico. Para além da reconstituição quantitativa das frotas do Brasil e da identificação dos navios que as formaram, no intervalo cronológico mais alargado que nos foi possível, no sentido de obter uma evolução de média-longa duração que inclua momentos-chave das relações políticas e comerciais entre o Brasil e Portugal, procurou-se ainda proceder a uma análise da tonelagem da mercadoria transportada, à identificação dos comandantes e/ou mestres envolvidos e à comparação entre o movimento do porto de Lisboa e o de outros portos do Continente, assim como à contextualização do trânsito de navios para o Brasil no âmbito do movimento de embarcações para os outros destinos do Império português de então, nomeadamente para África e o Oriente. Este é um trabalho que se destina fundamentalmente a facultar um moroso trabalho de pesquisa e uma massa de informação bastante assinalável, respondendo aos desafios lançados por V. M. Godinho, Virgínia Rau ou Frédéric Mauro há cerca de meio século, e que ainda continuam actuais, no sentido de proceder à seriação da informação disponível sobre as viagens oceânicas realizadas no tempo da Expansão Europeia, em geral, e portuguesa, em particular.

As sesmarias no Império Português do Atlântico


Miguel Jasmins Rodrigues
Departamento de Ciências Humanas / Instituto de Investigação Científica Tropical

A base económica do Império Português do Atlântico assentará, em boa parte e durante largo tempo, na produção sacarina como produto principal de exportação. É este produto, com mercado garantido nas sociedades europeias, que permitirá às élites de origem portuguesa estabelecer e/ou consolidar a sua supremacia social. Tratando-se de um produto que tem como base a produção agrícola, o controlo sobre a terra constitui um dos factores mais importantes para a definição das élites acima referidas. As sesmarias parecem ter constituído, tanto nos arquipélagos atlânticos como no Brasil, uma das mais importantes formas de aquisição desse controlo, e a extensão de terra dada em sesmaria afigura-se, de um modo geral, proporcional ao status formal de origem. Este processo pode ser seguido, ainda na primeira metade do século XV, no que diz respeito ao arquipélago da Madeira, prolongando-se ao longo de todo o Antigo Regime no Império Português do Atlântico.

Aspectos da Cultura material e inventários post-mortem da capitania do Maranhão, séculos XVIII e XIX


Antónia Silva Mota
Universidade Federal de Pernambuco


Aborda-se aspectos da cultura material, no momento áureo da economia agroexportadora. A partir da segunda metade do séc. XVIII, deu-se uma intensa movimentação populacional: portugueses que chegaram para explorar a nova fronteira agrícola, trazendo inúmeras etnias africanas para o trabalho nas lavouras. Estas culturas se encontraram com as populações nativas, ainda com forte presença na região. A análise dos testamentos e inventários post-mortem manifesta
o aumento do nível da fortuna das famílias, aliado a uma intensa concentração de renda, marca das economias escravistas-exportadoras. A maioria dos proprietários rurais era absentista, tendo como local de moradia a cidade portuária de São Luís. Eles direcionaram a riqueza acumulada para gastos ligados ao mundo urbano%% como mostra o espólio das elites, onde se sobressaem as portentosas casas  de moradia e o refinamento do mobiliário, das louças, roupas e adereços. O que contrasta com a precariedade do viver da maioria.

Brasil: colónia rebelde (poder, colonização e os limites do Antigo Regime na América)


Luciano Raposo Figueiredo
Universidade de São Paulo


As rebeliões que estalam em diversas cidades coloniais à margem do Atlântico na segunda metade do século XVII e início do XVIII revelam mais que a existência de súbditos inquietos. A frequência com que acontecem, especialmente no Brasil, indica a existência de um forte desajuste nas condições do governo do ultramar.
Os recorrentes motins de soldados, revoltas antifiscais, expulsão dos governadores, protestos contra a carestia de géneros básicos fustigaram em última análise as regras do bom governo. E parecem revelar as dificuldades de reiteração do Antigo regime sob às exigências da colonização mercantilista, que demanda excesso de impostos, regime de comércio exclusivo, lentidão da justiça. Contingências da colonização que indispõem os súbditos quase sempre contra o governo local.

Brasil: encontro da Ásia com o Atlântico. As relações Macau-Brasil até ao século XIX


Rui d'Ávilla Lourido
Instituto Universitário Europeu de Florença
 
Neste estudo propomo-nos reflectir sobre as relações entre Macau e o Brasil, até inícios do século XIX. Numa primeira parte analisaremos essa relação marítima até ao século XIX, a qual apesar de predominantemente clandestina, não deixou de ser encarada como uma alternativa às crescentes dificuldades do comércio português de Macau com o Índico, motivadas pelo gradual domínio de outras potências europeias. Numa segunda parte pretendemos reflectir sobre a influência que essas relações mercantis tiveram na sociedade brasileira, seja nos seus aspectos mais sociais, seja nos de índole predominantemente cultural.
O grande fluxo de pessoas e bens da Ásia, nomeadamente da China, para a América, em particular o Brasil, na sua rota de, e para a Europa, contribui para a influência chinesa e de motivos orientais no Brasil, a qual assumiu diferentes formas e expressões interculturais e vivências, cujos efeitos ainda hoje podemos reconhecer. 
Sabemos que a prata americana e a seda chinesas foram os mais valiosos e principais produtos trocados entre os dois continentes. Contudo a nós interessa-nos, em especial, analisar as assimetrias, os conflitos de interesses que se desenvolveram a pretexto deste comércio. Nomeadamente, analisando os elementos: comércio oficial verso comércio privado%% representantes dos poderes central e regional verso poder local%% e a comunidade de mercadores locais e casados verso os mercadores de longo curso. É à luz destes interesses contraditórios que tentaremos explicar a persistência dos navegadores e mercadores sulcarem a rota marítima, que dá corpo ao comércio, frequentemente clandestino, entre a cidade de Macau e o Brasil.
Esta comunicação é essencialmente baseada em documentação por nós investigada em arquivos como Archivo Segreto Vaticano, Arquivo Histórico de Macau, Bibliotheque Nationale de Paris, e arquivos portugueses, nomeadamente, Arquivos Nacionais Torre do Tombo e Arquivo Histórico Ultramarino.

Cametá: Marcas da presença portuguesa na Amazónia


Elis Miranda
Universidade Federal do Rio de Janeiro


O trabalho analisa a paisagem da cidade de Cametá, localizada às margens do rio Tocantins, no estado do Pará, na Amazônia brasileira como parte integrante do projecto do Marquês de Pombal (1750-1777) em integrar a Amazônia ao território português.
Cametá, fora fundada em 1637, em posição estratégica, na margem esquerda do rio Tocantins. A partir do seu porto poderia se fazer o controle da circulação das embarcações que circulavam por uma possível ligação entre as áreas das minas de ouro das terras de Goiás e a foz rio do Amazonas, bem como exercia papel importante no comércio das drogas-do-sertão. E juntamente Belém (1616), Gurupá (1939) e Bragança (1624) realizava o controle de circulação das vias fluviais, e assim, protegia as terras do vale amazónico da entrada de embarcações de nações inimigas de Portugal. O projeto do Marquês de Pombal objectivava, principalmente, consolidar o vale amazónico como território luso. Para isso, não bastava assegurar o domínio territorial da mesma forma que vinha sendo feito há mais de um século. Dessa maneira, o projecto de Pombal fundou novas vilas e cidades em todo o vale do rio Amazonas, em substituição às missões religiosas dos Jesuítas, a nominação dessas novas cidades com topônimos portugueses e a construção do plano urbanístico aos moldes das cidades portuguesas, dando uma feição lusa no vale amazónico, impondo, dessa maneira, a cultura lusa sobre a cultura indígena. A análise da paisagem da cidade de Cametá será feita á luz da teoria das representações sociais e da Geografia Cultural, que entende a paisagem como um texto, que pode ser lida e interpretada, relacionando os objectos espaciais à organização social e aos elementos da natureza, tão significativo no caso de Cametá. A paisagem da cidade será analisada a partir de fotografias feitas pela autora nos anos de 2003 e 2004, durante a realização de seus trabalhos de campo. Mostrando, dessa maneira, a permanência da presença portuguesa em território amazónico.

Carga e encargo da empreitada colonial portuguesa no Atlântico Sul. [...]


Maria Manuela de Abreu Borges Domingues
Departamento de Ciências Humanas - Instituto de Investigação Científica Tropical


Tendo como base teórica os estudos referentes à cultura material e imaterial africana e afro-brasileira, sublinha-se a importância das migrações africanas na formação e reformulação das representações identitárias no Brasil, com o intuito de promover o conhecimento sobre a história do contacto e convívio entre as culturas e povos africanos e europeus, no contexto das relações de poder coloniais dominadas pelos portugueses, e os seus prolongamentos actuais, com o propósito de oferecer reflexões estratégicas políticas e sociais transformadoras.
Pretende reflectir de maneira critica esse passado, a partir das interrogações sobre o presente, analisar representações, discursos e práticas de outrora, para compreender fenómenos contemporâneos e melhor entender as práticas, representações e discursos dos diversos actores sociais e as articulações entre esses, fornecendo elementos para um entendimento das continuidades e rupturas, e cruzamento inter-cultural, que reflecte a memória colectiva e tes­temunham o processo da sua criação e continua reformulação, a nossa reflexãocomunga das preocupações científicas actuais que procuram explorar os domínios das representações e memórias, que se elaboram e reelaboram no processo do convívio entre culturas africanas e europeias, e que se revelam nos suportes os mais diversos, aprofundando o conhecimento das práticas associativas femininas em África e no Brasil, nomeadamente, as abotas e mandjuandades, estudadas na Guiné-Bissau, e as irmandades católicas de negros e mestiços, investigadas no estado brasileiro da Bahia.

Censura e prosa de ficção no mundo luso-brasileiro [...]


Luiz Carlos Villalta
Universidade Federal de Minas Gerais


Esta comunicação tem por objeto a relação entre censura, romances e cultura letrada no mundo luso-brasileiro, sobretudo entre 1768 e 1821, limites temporais esses recuados e dilatados em algumas partes da abordagem. Centrarei a análise, por um lado, na identificação das razões que moveram a censura portuguesa a proibir alguns livros de prosa de ficção, relacionando as proibições às visões depreciativas então em voga sobre esse tipo de livro, marcadamente sobre os romances, gênero então nascente. Por outro lado, procurarei compreender as formas pelas quais romancistas e apreciadores dos romances procuraram defendê-los. Meu objetivo será mostrar que a tríade instruir, divertir e edificar, como funções dos romances, foi negada ou aplicada, total ou parcialmente, por seus defensores e críticos, perpassando o combate e a defesa de que foram alvos. Ou seja, se a censura e seus detratores julgaram que em muitos deles não havia instrução (mas, pelo contrário, acusavam-nos de trazer má instrução) nem edificação, concebendo-os como forma de divertimento vil, os seus defensores procuraram firmá-los como veículos de instrução, edificação e divertimento.

Colonos e Estado na revelação do espaço e na formação territorial de Mato Grosso no séc. XVIII [...]


Mário Clemente Ferreira
Universidade Católica Portuguesa


Tendo por base parte da investigação até agora realizada no âmbito de uma tese de doutoramento que se encontra a ser desenvolvida na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa sobre a construção da fronteira em Mato Grosso no século XVIII, pretende-se avaliar a contribuição das autoridades e dos particulares na exploração do espaço e na construção da do território da Capitania de Mato Grosso no decorrer do século XVIII.
Na produção historiográfica sobre a temática que se pretende analisar, diversos historiadores valorizaram a contribuição dos colonos, enquanto outros enfatizaram o papel do Estado metropolitano e dos seus agentes na exploração ocupação das terras mais ocidentais do Brasil. Entre os primeiros encontram-se os trabalhos de Basílio de Magalhães ou os estudos clássicos de Afonso Taunay. Já Jaime Cortesão e, sobretudo, David Davidson valorizaram o contributo do Estado. Importa, no entanto, avaliar com cautela as contribuições pública e privada para a formação territorial desta região do Brasil. Como escreveu Arthur Cézar Ferreira Reis, «há, é certo, que examinar a matéria com rigor e sem exageros nacionalistas». É precisamente o que se pretende com a apresentação desta comunicação.

Conexões e informantes entre Portugal e as partes do império no tempo dos Filipes [...]


Ana Paula Torres Megiani

Universidade de São Paulo

Enquanto vigorou a União das Coroas Ibéricas (1580-1640) aprofundaram-se as relações de conhecimento acerca das conquistas luso-espanholas. Alguns circuitos e conexões surgiram constituídos por funcionários e clérigos letrados, tanto de enviados com o objectivo de registrar e descrever as partes do Oriente e Ocidente, como dos que ao lado de suas actividades administrativas e evangelizadoras enviavam informações e conhecimentos delas. Manuel Severim de Faria, Chantre da Sé de Évora, criou e centralizou um desses importantes circuitos, do qual fizeram parte, entre outros,
o vice-rei Diogo do Couto e os freis Cristóvão de Lisboa e Vicente do Salvador. Outros, menos conhecidos, relatavam em cartas as notícias com grande rapidez, como as da Guerra contra os Holandeses na Bahia em 1624-25, que serão o objecto desta comunicação.

Conflito e jurisdição na constituição das Juntas das Missões no Atlântico português [...]


Marcia Eliane Alves de Souza e Mello
Universidade Fedederal do Amazonas


O presente trabalho analisa os conflitos observados entre os principais dignitários na formação das Juntas das Missões Ultramarinas. Instaladas no final do século XVII, em diferentes localidades do Império Português do Atlântico, eram compostas por representantes de diferentes esferas de poder - leigos e religiosos -, vendo-se susceptível a discordâncias entre os seus membros, os quais se manifestavam nas disputas pela precedência de assentos ou pela sistemática das votações. Centra-se no exame da controvérsia provocada pelos Bispos que contestaram o seu lugar na composição das Juntas ultramarinas, subordinados aos Governadores-Gerais, e na abordagem de suas atribuições e competências, procurando demonstrar a amplitude dos assuntos que passavam pelas Juntas das Missões e os limites de seus poderes.

Corsários argelinos na costa atlântica - o resgate de cativos de 1618


Edite Alberto
Universidade do Minho

Partindo da análise da enumeração dos cativos resgatados de Argel, em 1618, pelos frades a Ordem da Santíssima Trindade, podemos traçar o mapa dos principais locais da costa atlântica atacados por corsários argelinos. Pretende-se nesta comunicação abordar a temática da insegurança constante das populações das zonas costeiras e a obra dos frades trinitários no resgate dos cativos em terras norte africanas.

Corso holandês no Atlântico contra a Carreira da Índia: 1595-1630


André Murteira
Centro de História de Além-Mar - Universidade Nova de Lisboa


O corso holandês começou a ser um problema para a Carreira da Índia na viragem do século XVI para o século XVII, quando, em 1598, depois da viagem pioneira de Houtman (1595-1597), os holandeses passaram a viajar regularmente para a Ásia através da Rota do Cabo, o que gerou em pouco tempo incidentes violentos com navios da Carreira encontrados no caminho. No nosso artigo, tentamos reconstituir a história dos ataques corsários holandeses a navios da Carreira no Atlântico até 1630. A par dos ataques efectivamente realizados - muitas vezes não planeados, mas resultantes de encontros acidentais - analisamos também acções de bloqueio ou ocasiões em que esquadras holandesas procuraram sem sucesso naus da Índia para assaltarem. Comparamos por fim as acções de corso holandesas contra a Carreira levadas a cabo no Atlântico com aquelas levadas a cabo no Índico.

Crioulos indómitos": identidade e croulização em Cabo Verde (séculos XVII - XVIII)"


Maria João Soares
Departamento de Ciências Humanas / Instituto de Investigação Científica Tropical


O objectivo geral da presente comunicação é o de contribuir para o estudo dos complexos de crioulização e identidade no contexto específico de Cabo Verde nos séculos XVII e XVIII, particularmente na ilha de Santiago.
Os conceitos de mestiçagem, crioulidade e crioulização são actualmente objecto de profundas e complexos debates em vários domínios científicos, fruto da afirmação nas actuais sociedades contemporâneas globalizadas da heterogeneidade, diversidade, coexistência de indivíduos de origens diferenciadas e da confluência de diversas correntes culturais.
A generalização e aplicação indiferenciada destes conceitos a múltiplas realidades sociais colocam em risco o seu conteúdo e operacionalidade explicativa. A aplicação fácil e confortável daquelas noções a todo de situações de culturas em presença transforma-as em chavões", despidos de especificidade. As múltiplas camadas discursivas, ambiguidades, conotações, ambiguidades e cargas metafóricas que estes termos encerraram no passado e encerram no presente colocam seriamente em risco o seu potencial analítico.

Seja bem-vindo/a à Biblioteca Digital Camões!

A disponibilização de um conjunto de textos e documentos de grande relevância cultural e linguística insere-se na missão do Instituto Camões: A promoção da língua e cultura portuguesas, de que se vem ocupando desde 1929.

A Biblioteca Digital Camões pretende fazer chegar o Português a um universo cada vez mais amplo de falantes e estudantes do Português. Nos próximos meses receberá novos e diversificados parceiros, que a enriquecerão com as suas contribuições e cooperarão na preparação do Instituto Camões para o Séc. XXI.

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