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Samuel Usque
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Samuel Usque: frontespício da Consolação às Tribulações de Israel
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Escritor português, nascido em 1492, sofreu as vicissitudes e perseguições de que foram alvo os judeus portugueses no período renascentista. Exilado, publicou em Ferrara a sua principal obra Consolação às Tribulações de Israel (1553).
Este texto apresenta um carácter vincadamente apologético do judeísmo, dando corpo a uma «filosofia religiosa em torno da história judaica». Com efeito, propôs-se narrar o sofrimento e as perseguições de que fora e era alvo o seu povo desde os tempos bíblicos até às opressões de que ele próprio fora vítima.
A obra é composta por três diálogos travados entre outros tantos interlocutores: Jacob, que representa o pensamento do autor, e os profetas Nahum e Zicareo, cuja função é vincar o carácter verídico das profecias, ao mesmo tempo que consolam o povo apontando a eminência do seu destino e missão históricas.
Sempre com o texto da Escritura por fundamento da narração e em estilo marcadamente bucólico e pastoril, dá acolhimento à filosofia esotérica hebraica, nomeadamente à teoria da metempsicose, que acolhe possivelmente através do esoterismo cabalístico, com mistura de concepções neoplatónicas. Com efeito, num dos citados diálogos, coloca na boca de uma das suas personagens, a respeito do destino das almas que abandonam a crença, a defesa da transmigração das almas, passando de corpo em corpo, num processo de purificação ou degradação progressivas.
Obras
Obra submetida a apertada censura por parte do Santo Ofício, encontrou sempre dificuldades de circulação em Portugal e Espanha. Modernamente foi publicada por Mendes dos Remédios.
Bibliografia
Mendes dos Remédios, Prefácio à edição da Consolação às Tribulações de Israel, Coimbra, 1906; Id., «A "Consolação às Tribulações" de Samuel Usque» in Biblos, vol. III, Coimbra, 1927, pp. 408-424; Mário Martins, «A filosofia esotérica em Samuel Usque», in revista Portuguesa de Filosofia, vol. II, Braga, 1946, pp. 339-349; Pinharanda Gomes, A Filosofia Hebraico-Portuguesa, Porto, 1983.
Pedro Calafate
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