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José Júlio Bettencourt Rodrigues (1843-1893)
Como docente da 6ª cadeira, 1ª parte Química Inorgânica e 2ª parte Química Orgânica, e da cadeira de Química Orgânica na Escola Politécnica de Lisboa, destacou-se pelo pendor experimental que dava à sua acção pedagógica, nomeadamente a partir do apetrechamento, modernização e organização do Laboratório de Química, de que é um dos principais responsáveis. Introduziu as aulas práticas, estruturadas com programas e manuais inovadores, em que todos os alunos eram chamados ao laboratório, para fazerem eles próprios as experiências. Sob a direcção de Bettencourt Rodrigues, passa a exigir-se aos alunos que confirmem experimentalmente os resultados e que sejam preparados para aplicar à investigação ou à indústria os conhecimentos adquiridos. Contactou com vários químicos importantes da sua época, revelando o seu empenhamento num paradigma de química que tinha já optado pela teoria atómica e pela teoria unitária. Entre os químicos estrangeiros com quem contactou, destaca-se para August von Hofmann (1818-1892), que veio a Portugal, tendo visitado, em 1890, o Laboratório Químico da Escola Politécnica. (Ver Episódio O Laboratório Chymico) Na Escola Politécnica, valorizou as aplicações industriais e aperfeiçoou processos fotográficos e tipográficos. Foi incentivado por Filipe Folque (1800-1874) a desenvolver investigações e estudos dos processos de publicação de cartas corográficas através da utilização de novos métodos como a heliogravura e a fotolitografia, na tentativa de substituir os processos então em uso de gravura em pedra e em cobre para a publicação de cartas corográficas e topográficas. Foi o fundador da Secção Fotográfica da Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos, Hidrográficos e Geológicos do Reino, oficialmente criada em 15 de Novembro de 1872. Em 1873 fez uma viagem a Paris, para se inteirar dos processos aí utilizados. Em 1874 apresentou-se na X Exposição da Sociedade Francesa de Fotografia, tendo ganho uma medalha de ouro pelos exemplares apresentados, que consistiam em fotolitografias, fotozincografias, heliogravuras, entre outros. Em 1875 organizou na Academia Real das Ciências de Lisboa a primeira exposição nacional fotográfica, onde apresentou os resultados do trabalho desenvolvido até então. A sua actividade foi intensa, produzindo 14000 estampas (fotolitografias), cerca de 500 fotogravuras tipográficas e mais de 70 cópias fotográficas com sais de prata. Este serviço era o único existente na Península Ibérica, e um dos primeiros em todo o mundo. Representou Portugal no Congresso Internacional de Geografia organizado pela Sociedade de Geografia de Paris, em 1875, onde recebeu rasgados elogios relativamente à qualidade do serviço que dirigia em Portugal. Enquanto esteve em Paris assinou um acordo internacional que estabelecia a obrigação dos países signatários de criar um instituto de permutações científicas, literárias e artísticas. Na sequência do Congresso Internacional de Geografia foi fundada em Portugal a Sociedade de Geografia de Lisboa, onde integrou o seu Conselho Central, e a Comissão Central Permanente de Geografia, onde foi nomeado secretário. Esta Comissão propôs ao Governo, em 1876, a organização de uma expedição portuguesa para investigação e exploração do interior africano. Esta expedição veio a ser decidida em 1877, com a escolha dos exploradores, Hermenegildo de Brito Capelo (1841-1917), Alexandre Alberto da Rocha Serpa Pinto (1846-1900), e Roberto Ivens (1850-1898). As instruções para esta expedição foram redigidas pelo naturalista J. Vicente Barbosa du Bocage (1823-1907) e por José Júlio Rodrigues. Os fins da expedição e os seu âmbito geográfico eram assim definidos: A expedição terá por principal objectivo o estudo do rio Cuango nas suas relações com o Zaire e com os territórios portugueses da costa ocidental, e bem assim toda a região que compreende, ao sul e a sueste, as origens do rio Zambeze e Cunene, e se prolonga ao norte até entrar pelas bacias hidrográficas do Cuanza e do Cuango. A exploração do Cunene até à sua foz, deverá reputar-se compreendida nos encargos da expedição, quando não haja incompatibilidade entre aquela exploração e a que, por sua particular importância constitui a principal obrigação dos expedicionários. (cit. in Mendes, p. 40) Entre as funções que os exploradores tinham que desempenhar, interessam aqui as questões científicas, que consistiam em fazer determinações magnéticas, termométricas, barométricas, hipsométricas, entre outras, para além de estudarem a climatologia, a hidrologia e avaliarem as distâncias percorridas. Deviam ainda recolher espécimes naturais. A sua obra de investigação de maior relevo é o Estudo sobre as bases fundamentais dos novos pesos atómicos e suas relações físicas mais notáveis, Lisboa, 1867. Em colaboração com António Augusto de Aguiar, compôs outra obra também muito apreciada, o Curso elementar de ciências físicas e naturais para uso dos liceus, Lisboa, 1868, na qual foi responsável pela parte da Mineralogia. Bettencourt Rodrigues aperfeiçoou diversos equipamentos para usos industriais. Na fábrica nacional de tinta de imprensa, ensaiou novos processos para o fabrico dessa tinta, com óleo de resina. Referencia o aproveitamento da batata doce para a extracção do álcool e da fécula, e a extracção do açúcar de beterraba. Fez ainda diversas experiências de iluminação pública com luz eléctrica, nomeadamente através da instalação de um circuito de iluminação numa sala da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa. Publicações Estudo sobre as bases fundamentaes dos novos pesos atomicos e suas relações physicas mais notaveis, Lisboa, 1867. Fernando Reis Bibliografia MENDES, H. Gabriel, As Origens da Comissão de Cartografia e a Acção Determinante de José Júlio Rodrigues, Luciano Cordeiro e Francisco António de Brito Limpo, Lisboa, Junta de Investigação Científica. do Ultramar, 1982. |
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