João da Silva Correia Júnior
(Espariz, Tábua, 21-01-1891 - Lisboa, 01-06-1937)

Capa de A Linguagem da Mulher

O ensino secundário veio fazê-lo no Liceu Pedro Nunes. Seguiu depois para a Faculdade de Letras de Lisboa, licenciando-se em Filologia Românica em 1917. Como professor dos liceus, exerceu em Beja e na Guarda; leccionou também na Escola Industrial de Fonseca Benevides e no Instituto de Orientação Profissional. Em 1920 foi nomeado professor efectivo da Escola Normal Primária de Lisboa, havia pouco instalada em Benfica. Na Faculdade de Letras começou como assistente. No doutoramento, em 1929, apresenta a tese O eufemismo e o disfemismo na língua e na literatura portuguesa. Passa a catedrático em 1930 (dissertação ao concurso: A rima e a sua acção linguística, literária e ideológica). Regeu Filologia Portuguesa e Estudos Camonianos. Foi membro da direcção do Centro de Estudos Filológicos, futuro CLUL, e também dirigiu a Faculdade de Letras; mal pôde exercer a vice-reitoria da Universidade de Lisboa. Tinha apenas 46 anos quando morreu - «sob o pêso e na multiplicidade de funções dos que-fazeres e das responsabilidades, definitivamente se lhe rompeu o pouco estável equilíbrio nervoso» (Hernâni Cidade)

Parte da sua bibliografia, a ligada sobretudo à experiência na Escola Normal, ocupa-se de assuntos pedagógicos, focando-se frequentemente na escrita e na leitura: A condução pedagógica da lição no ensino liceal (Lisboa, 1920; tese para exame de estado); «Projecto de um programa de língua materna para a escola primária geral» (O Instituto, 71, 1924); «Instruções sôbre jogos de leitura (Portaria n.º 3:891)» (Boletim Pedagógico, 1, 2-2-1924), com Alberto Pimentel; Livros primários de leitura (Lisboa, 1925); O ensino inicial da leitura e da escrita (Lisboa, 1927); Metodologia da lição de leitura na escola primária (Lisboa, 1928), A arte de contar contos e a sua didáctica escolar (Lisboa, 1929); etc. Quanto aos trabalhos de filologia, tratam eles quase sempre matérias pouco frequentadas por outros linguistas. Além dos referidos O eufemismo e o disfemismo na língua e na literatura portuguesa (Arquivo da Universidade de Lisboa, 12, 1927) e A rima e a sua acção linguística, literária e ideológica (Lisboa, 1930), «O problema do simbolismo fonético» (O Instituto, 73, 1926), «A interpretação verbal de sons e ruídos naturais» (Biblos, 11, 1926), A linguagem da mulher em relação à do homem (Lisboa, 1927), Alguns paralelos entre a literatura culta e a literatura popular portuguesa (Arquivo da Universidade de Lisboa, 12, 1927), «A audição colorida na moderna literatura portuguesa» (Miscelânea de estudos em honra de Dona Carolina Michaëlis de Vasconcellos, Coimbra, 1930), «Reflexos filológicos dos sinais gráficos» (Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, 1, 1933). A conjunção de certo psicologismo, pendor para a semântica, curiosidade por etimologias curiosas, sensibilidade a corpora literários, aponta para a escola em que o poderemos situar, a estilística (cp. Charles Bally; Karl Vossler; Leo Spitzer; a Estilística de Manuel Rodrigues Lapa; alguns trabalhos de Paiva Boléo). Fez notícia sobre Francisco Adolfo Coelho, seu antigo professor, «O Doutor Adolfo Coelho, pedagogo» (Lusa, 3, 1920), e estudou o contributo de Diez, «Frederico Diez e a filologia românica» (O Instituto, 71, 1924). No Diário de Notícias, entre 1925 e 1935, teve coluna de «Notas filológicas». Enfim, o que Silva Correia escreveu lê-se prazenteiramente, mantendo-se apelativo até pela originalidade. Manuel de Paiva Boléo indica como característica menos bem lograda o método, «preferentemente descritivo e sincrónico»: «João da Silva Correia não faz, por via de regra [...], a história dum facto linguístico, desde o seu aparecimento até à actualidade [...]; limita-se, na maior parte dos casos, a registar a existência duma expressão, a qual nem sempre explica suficientemente»; Herculano de Carvalho considera que nas obras de Silva Correia «abundam as observações perspicazes e os acertos interpretativos (não obstante, por vezes, uma certa superficialidade)»
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Edifício onde funcionava a Escola Normal (depois Escola do Magistério Primário; hoje Escola Superior de Educação de Lisboa), projecto de Adães Bermudes [Muitos anos de escolas, 1 (edifícios para o ensino infantil e primário), Lisboa, ME-DGAE, 1990, p. 91

(Na redacção desta notícia usámos artículo de Paiva Boléo publicado na Revista Portuguesa de Filologia, 1, 1947, pp. 613-617; J. E. Moreirinhas Pinheiro, Do Ensino Normal na cidade de Lisboa. 1860-1960, 1990, p. 95; «João da Silva Correia e o ensino da leitura na escola primária», Rogério Fernandes & Áurea Adão (orgs.), Actas do 1.º Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, 2, Porto, SPCE, 1998, pp. 49-53; José Leite de Vasconcelos, Etnografia Portuguesa. Tentame de sistematização, 1, 1933, pp. 289-290; Ivo Xavier Fernandes, Revista de Portugal. Série A - A Língua Portuguesa, 13, 1948, pp. 77-78; o verbete, de J. G. Herculano de Carvalho, na Verbo. Enciclopédia luso-brasileira de cultura, 6, 1967; o necrológio por Hernâni Cidade, «Prof. Doutor João da Silva Correia», Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, 5, 1938, pp. 404-406.)